Oniomania: compulsão por compras. Você sofre disso?
A pandemia agravou essa patologia. Mulheres do Brasil são líderes no consumo. Saiba quais são os sinais de que você se enquadra no perfil
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que cerca de 8% da população mundial sofre de oniomania, também chamada de consumismo compulsivo e Transtorno do Comprar Compulsivo (TCC). A patologia é responsável pelo giro de mais de USD 4 bilhões na América do Norte, por exemplo. Entre 80% e 94% dos compradores compulsivos são mulheres, cujo transtorno costuma surgir por volta dos 18 anos de idade.
De acordo com a pesquisa Barometro Covid-19 sobre mudanças de hábitos, realizada pela consultoria Kantar com mais de onze mil pessoas de 21 países da América Latina, o Brasil é o país que registrou o maior aumento de compras online durante a pandemia: 30%. Segundo Adiel Rios, mestre em Psiquiatria pela UNIFESP e pesquisador no Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, existe prazer em adquirir bens que desejamos. “Quando conseguimos, há liberação de neurotransmissores que proporcionam sensação de bem-estar. O sentimento é normal, desde que esteja dentro de um contexto mínimo de realidade”.
De acordo com o psiquiatra, na oniomania esta sensação surge de maneira exacerbada. “As compras são feitas de forma impulsiva, na maioria das vezes, de bens supérfluos. Normalmente, envolve um padrão de pessoas que compra na tentativa de preencher um vazio, suprir carências ou aliviar algum problema psicológico. Pagam por produtos que geralmente nem usam, apenas para saciar a satisfação de comprar algo novo, que logo desaparece e se transforma em sentimento de culpa. Para compensar, a pessoa vai em busca de comprar outra coisa, tornando o ciclo vicioso", afirma Rios.
Sinais de alerta
É difícil para um comprador compulsivo perceber e admitir o próprio transtorno. Para auxiliar na identificação desse comportamento, o psiquiatra pontua os principais sinais
Descontrole financeiro
Vivemos uma era em que nem é preciso sair de casa para ter vontade de comprar. Isso porque as redes sociais, além de rastrearem nossa atividade dentro das próprias redes, conseguem identificar quais sites acessamos. Além das armadilhas virtuais, o consumo ganhou atratividade por meio de maiores facilidades de pagamento. Hoje, há várias formas de um comprador compulsivo se enrolar financeiramente, seja pagando o mínimo do cartão de crédito, aderindo ao cheque especial ou contratando crediários.
Compras às escondidas
Para o indivíduo com oniomania, comprar sem ninguém saber e esconder os itens em casa já são parte do processo de compra. “Por ser considerada uma postura socialmente reprovável, o medo da censura e do julgamento explicam o comportamento de nutrir a compulsão em segredo”, diz Rios.
Peças esquecidas ou nunca usadas
A pessoa chega a comprar roupas ou sapatos sem sequer experimentar. E, muitas vezes, compra itens praticamente iguais, pois nem se lembra do que tem no armário, muitas ainda com etiqueta. “O indivíduo não tem nem mais espaço para guardar e acaba amontoando tudo no fundo do guarda-roupa, e esquece”, complementa o psiquiatra.
Abstinência
Irritabilidade, extrema ansiedade e oscilações de humor. Essas são algumas das manifestações clínicas durante os longos períodos sem consumo. Os sintomas decorrentes da abstinência podem ser similares aos da dependência do uso de substâncias químicas, ocasionando desespero, perda de autoestima, sintomas de humor deprimido e ansiedade.
Sensação de culpa
Como em outros transtornos, após efetuar uma compra e vivenciar a sensação de prazer, vem depois o sentimento de culpa e sofrimento. Quando acaba aquele bem-estar, ocorre uma sensação de impotência diante do descontrole da compra. Logo, surge o ciclo de “prazer-luto”.
Origem familiar e genética
Não há estudos definidos que comprovem as causas da doença, mas a literatura médica relaciona com a história comportamental da família.
O estudo sobre o tema Clinical Manual of Impulse-Control Disorders, desenvolvido pelos pesquisadores Eric Hollander e Dan Stein, da Universidade Albert Einstein College of Medicine, em Nova York, revelou que famílias de compradores compulsivos mostram maior tendência a desenvolver outros transtornos como do humor, dependência química, transtornos alimentares e, é claro, compulsão por compras. “Além disso, outros estudos científicos revelam uma relação bastante próxima entre a oniomania com o transtorno obsessivo compulsivo e o transtorno bipolar”, pontua.
Tratamento
Há inúmeras abordagens terapêuticas capazes de auxiliar quem sofre deste transtorno. Os tratamentos incluem o acompanhamento por fármacos (como ansiolíticos e antidepressivos), psicoterapias e até consultoria com um especialista em finanças pessoais. Há ainda grupos de apoio, como o Devedores Anônimos (www.devedoresanonimosonline.com.br/), onde outros compulsivos compartilham suas experiências.
Fonte: https://gpslifetime.com.br/conteudo/cotidiano/10/oniomania-compulsao-por-compras-voce-sofre-disso